quarta-feira, 29 de julho de 2009

CANETA INTELIGENTE - conversão sui generis

“Quando o homem deixa de criar, deixa também de viver”.
(Lewis Mumford)

Uma caneta inteligente que grava e memoriza o que escreve permitindo a transferência da informação para o computador e a organização de todas as anotações efectuadas.

Fabricada pela Livescribe, Oakland, EUA, a caneta inteligente foi criada para digitalizar a escrita e todo o grafismo que os usuários inscrevem sobre o papel, permitindo criações multimedia a partir do tradicional suporte da escrita, o papel.

Segundo a revista Macworld, “Livescribe's Pulse Smartpen tem a capacidade de gravar som e sincronizá-lo com notas escritas. Ao clicar sobre uma parte de um texto, o som reproduz o momento exacto em que o escreveu.

Para tirar partido das funcionalidades de áudio e texto, deve usar o Smartpen com Livescribe dot paper; os pequenos pontos sobre o papel são utilizados pela caneta, como referência para o controlo áudio. O dot paper notepad, tem controlos impressos na parte inferior de cada página. Esses controlos, permitem aos usuários gravar, avançar, acelerar ou abrandar a gravação áudio. A Livescribe vende vários cadernos e revistas com dot paper, mas o usuário também pode imprimir as suas próprias páginas numa qualquer impressora a cores”.



Não é minha pretensão, fazer a promoção de uma caneta com funções inovadoras, mais próxima das actuais formas da interacção humana com os instrumentos e objectos. Todavia, pretendo fazer uma análise conceptual da importância da conversão do instrumento tradicional em tecnológico.

O destino de novos produtos é por vezes incerto. No entanto, temos a certeza de que estamos em permanente movimento na tentativa de criar algo inovador. É esta a tendência que marca e deve marcar a nossa cultura, a aceleração da experiência através das novas tecnologias. Qualquer produto tradicional poderá transformar-se num produto tecnológico com potencialidades adequadas às necessidades actuais, atribuindo-lhe novos conceitos. Pensar os objectos e o seu uso, potencia as possibilidades e as capacidades para gerar novos conhecimentos e novos negócios. Inventar novos instrumentos, novas práticas, experimentar até ao limite as novas tecnologias é a forma de responder à complexidade do presente.

“Escrever é, em si mesmo, uma tecnologia que pretende registar e preservar a memória de uma experiência e um “estado de alma”, pois no próprio conceito de “téchnê”, como muito bem nos ensinaram os gregos , se inclui a “poiética” do Espírito”. (Luís B. Teixeira, “Prometeu e as Figurações Maquínicas da Escrita 1.0”, 2003). Será que estamos a tentar amplificar este conceito? Possibilitar novas opções em busca de uma melhoria de captação de informação, da escrita, de amplificação das nossas acções e habilidades de registo e preservação da memória.

Os instrumentos adquirem novos significados conceptuais com um campo de referências mais amplo e mais global através do modo como são usados. A informação tende para a convergência computacional. É isto que a tecnologia procura. Interagir com a informação, torná-la acessível e incluí-la rapidamente no grande suporte de informação e comunicação – a internet.



Muitos instrumentos, entre os quais os de aprendizagem, devem estimular a interactividade e a criação de inteligências colectivas que têm por objectivo, segundo Levy, “o reconhecimento e o enriquecimento mútuo das pessoas”.

Os instrumentos e objectos configurados por recursos digitais são portadores de informações em diversos formatos, sons, texto, imagens, que pressupõem um novo tipo de instrução baseada no digital. Esta configuração valoriza a criação de componentes que podem ser reutilizados em múltiplos contextos ”que estimulam o raciocínio e o pensamento crítico associado a novas abordagens das tecnologias digitais e aos princípios epistemológicos da cibercultura”.

Impõem-se alargar a actividade tradicional de forma a torná-la mais abrangente, gerando uma nova vida e novos conceitos aos instrumentos e objectos do nosso quotidiano. Ter a capacidade de desenvolver novos elementos, acrescentar novas especificidades para responder às diferentes formas do relacionamento humano com os objectos e permitindo a conversão de muitas áreas tradicionais deverá ser a motivação para o desenvolvimento da nossa criatividade.

Fica o registo da Livescribe que, para todos os efeitos, inovou e gerou uma nova vida a um instrumento comum e tradicional que, apesar de tudo, sempre cumpriu a sua função.

Verba volant, scripta manent
(As palavras voam as escritas ficam)



Mais informações acerca da caneta em http://www.livescribe.com

quarta-feira, 15 de julho de 2009

O IMPACTO DO DIGITAL NA INDÚSTRIA GRÁFICA

Ao longo do meu percurso profissional, assisti a profundas alterações dos procedimentos tecnológicos e produtivos na indústria gráfica. Após a introdução dos primeiros computadores, a pré-impressão sofre uma extraordinária mutação propiciada pelas possibilidades da electrónica. O digital determina o desenvolvimento técnico potenciando a qualidade e a produtividade quer na forma de produzir os impressos quer na sua articulação com o design.

As alterações protagonizadas pelo avanço tecnológico implicam grandes esforços ao nível da aprendizagem, metodologia e adaptação. A pouco e pouco, cresce a necessidade por conhecimentos especializados em áreas tecnológicas e ao nível da infografia. Profissões e terminologias deixam de ter sentido e outras emergem. As exigências deste novo sistema cresce muitas vezes a um ritmo mais rápido que as suas próprias possibilidades. As exigências destes sistemas fazem abolir alguns procedimentos, entre os quais, a montagem de fotolitos e o fototransporte que culmina na sensibilização directa do computador à chapa – computer-to-plate (CTP).

A dinâmica actual continua fortemente impulsionada pela integração de tecnologias de comunicação, electrónica, robótica e cibernética, sendo a aplicação dos dados digitais cada vez mais ampla. A galáxia de Gutenberg é hoje, digital.

A evolução dos sistemas digitais surge como um caminho natural para novas formas de comunicação. Lembro que o software adaptou-se às exigências diárias deixando de ser exclusivo, as suas funções tornaram-se cada vez mais sofisticadas, os seus componentes e sistemas tenderam para a uniformização, passaram a funcionar em conjunto e a utilizar a mesma linguagem. A comunicação deu origem ao desenvolvimento de standards internacionais e surgiu o termo do século – a compatibilidade.

O Postscript, TIFF, JPEG, PDF, JDF, são hoje imprescindíveis ao trabalho de edição. A ampla disponibilidade de sistemas, dá origem a soluções cada vez mais inteligentes e intuitivas. A tecnologia é capaz de tornar realidade a transferência de documentos electrónicos para qualquer parte do mundo, a baixo custo. Os dados digitais iniciados na pré-impressão estendem-se à impressão possibilitando a automação dos processos de impressão e também, do acabamento.

Na década de 80, os custos da pré-impressão cifravam-se entre 30% e 35% dos custos totais de produção dos impressos, o restante encontrava-se distribuído entre matérias primas, impressão e acabamento. Hoje, este valor não atinge mais de 10%. A tecnologia propiciou a redução de custos, o aumento da produtividade e marcou a diferença pela possibilidade do recurso à personalização. O JDF é um exemplo da integração da actividade produtiva, permitindo standardizar os processos de produção, tornando-os mais eficientes e económicos.

A compatibilidade de processos com a internet impõe a sua tendência no desenvolvimento, o web-to-print é simplesmente um canal de distribuição adicional de recursos, capacidades e produtos. Como referiu Bernard Zipper é uma “expansão da plataforma de negócios que também optimiza os processos de produção”.

A indústria gráfica continua em profunda mutação. O digital não é o futuro mas sim o presente por isso, cumpre-nos desenvolver competências que transformarão o trabalho dotado de criatividade orientado para uma nova dimensão.

O que seremos capazes de fazer com todas estas possibilidades?

Como disse Frank Romero “ a impressão não é uma coisa, é muitas coisas. A impressão não tem um futuro, tem muitos futuros” e será, com certeza, mais que imprimir!


TECNOLOGIAS DIGITAIS DESENVOLVIDAS PELA HP Indigo